Yolanda MORAZZO
(1927 - 2009)
Biographie
Yolanda Morazzo Lopes da Silva Cruz Ferreira, ou Yolanda Morazzo, est née le 16 décembre 1927 à Mindelo et meurt le 27 janvier 2009, à Lisbonne, à l'âge de 81 ans.
Fille d'Ida Santos Morazzo (1903-) et de Vasco de Gama Lopes da Silva, elle épouse en premières noces José Vasco Lopes (1919-1991), dont elle a deux enfants: Wanda et Ruí, puis en secondes noces, Fernando Cruz Ferreira, avec lequel elle a une fille prénommée Diva.
Après l'école élémentaire, elle poursuit son cursus au Lycée Gil Eanes, à Mindelo, mais achève finalement le lycée à Lisbonne oú sa famille a déménagé en 1943. Là, elle suit des cours de français à l'Institut français et d'anglais à l'Institut britanique. Diplômée en français et en anglais, elle part pour l'Angola avec son mari où elle donne des cours à l'Alliance française de Luanda jusqu'en 1975, date à laquelle elle retourne au Portugal. Elle travaille également pour l'ambassade de Yougoslavie à Luanda.
Elle occupe le siège n° 29 des Patronos / Imortais da Academia Cabo-verdiana de Letras, fondée en 2013.
Oeuvres littéraires
Nièce de José Lopes, elle collabore à de nombreuses revues capverdiennes, angolaises et portugaises, et publie en 1976 un premier recueil de poésie: Cântico de ferro: poesia de intervenção.
Trente ans plus tard paraît un second recueil intitulé Poesia completa 1954-2004. divisé en 4 parties:
- Velas soltas (1954-1959)
- Cântico de ferro (1960-1966)
- Lumenara (1967-1979)
- Cântico da integração cósmica (1980-2004)
Bien que son corpus soit restreint, elle jouit d'une grande notoriété, en particulier car elle est une des rare poétesse de la période pré-indépendance.
BARCOS
à querida ilha de São Vicente
de Cabo Verde
"Nha terra é quel piquinino
É São Vicente é que di meu"
Nas praias
Da minha infância
Morrem barcos
Desmantelados.
Fantasmas
De pescadores
Contrabandistas
Desaparecidos
Em qualquer vaga
Nem eu sei onde.
E eu sou a mesma
Tenho dez anos
Brinco na areia
Empunho os remos...
Canto e sorrio...
A embarcação
Para o mar!
É para o mar!...
E o pobre barco
O barco triste
Cansado e frio
Não se moveu...
Cambambe, 3 mai 1962
No reino de Caliban, p. 199-200
COLHEITA
Mistério? Não rapazes
Nada de mistérios!
É tempo de aniquilar os enigmas
Todos os enigmas
E estrangular os soluços na garganta.
O Mundo move-se, Amigos,
A noite virou madrugada
A vida é mais do que um cântico
A vida é uma certeza.
É por isso rapazes
Que me apetece pegar numa enxada
Atirar para os ombros as pás e as picaretas
Todas as picaretas do mundo
E ir assim por esses campos fora.
Vamos, Amigos. Basta!
Tirem as mãos dos bolsos
E deixem esse ar de interrogar as núvens.
É tempo de começar
E eu preciso da vossa ajuda.
Camaradas! Venham comigo!
Tragam também as foices e o arado
E vamos.
Olhai!
É tudo Nosso!...
A terra
Uma seara imensa...
O trigo a perder-se no longe
Amadurece.
Não o deixemos apodrecer.
É preciso ceifá-lo, Irmãos!
Suplement cultural - Cabo Verde, 1958, p. 9
A UMA QUALQUER
Não foi por amor ao dinheiro
nem foi por jóias
nem sequer por um vestido de seda.
Nem foi também por teres casa
móveis decentes, melhor vida.
Não, não foi por nada disto.
Tu, só tu sabes por que sorriste
e o teu coração bateu um pouco mais forte
quando o barco americano entrou no porto...
Suplement cultural - Cabo Verde, 1958, p. 10
Bibliographie
Oeuvres
- Poesia completa (1954-2004), Lisboa: Imprensa nacional - Casa da Moeda, 2006, 359 p., 24 cm. (coll. Escritores dos países de língua portuguesa, n° 37)
- Cântico de ferro: poesia de intervenção, Amadora (Portugal): Edições Petra, 1976, 77 p., 20 cm.
- "Querido Augusto (Mesquitela Lima)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XVI, n° 83 (06/2007), p. 16
- "Tempo sem tempo (inédito)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano X, n° 42 (12/2001 - 01/2002), p. 5
- "Lembrando Manuel Ferreira", A semana, ano II, n° 95 (1993), p. 11
- "Crónica da cidade do Mindelo", Ponto e virgula: revista de intercâmbio cultural, n° 17 (12/1987), p. 34
- "Morreu o poeta", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano XIII, n° 156 (09/1962), p. 26-29: mort de José Lopes da Silva
- "Canção da minha terra", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano XIII, n° 154 (07/1962), p. 18-19
- "Noite antiga", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 112 (01/1959), p. 20
- Suplemento cultural - Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, n° 1 (10/1958):
- "Procura", p. 8
- "Colheita", p. 9
- "A uma qualquer", p. 10
- "Exortação", in Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco (ed.), Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX, vol. II: Cap Vert, Rio de Janeiro: UFRJ, 1999, p. 78-79
- (GB) "Boats / Barcos", in Don Burness (ed.), A Horse of White Clouds. Poems from lusophone Africa, Ohio: Ohio University Press, 1989, p. 112-113
- Manuel Fereira (ed.), No reino de Caliban: antologia panorãmica da poesia africana de expressão portuguesa (vol. I: Cabo Verde / Guinée-Bissau), Lisboa: Seara Nova, 1975 (3a ed. 1988):
- "A uma qualquer", p. 198-199; 1988, p. 192-193
- "Cogitações", p. 199; 1988, p. 193
- "Barcos", p. 199-200; 1988, p. 193-194
- "Exortação", p. 200; 1988, p. 194
- "Velas soltas", p. 201; 1988, p. 195
- "n/a", in Ivone Maria Gabriel Pinheiro da Silva (ed.), A mulher e a sensibilidade portuguesa, Luanda: Mocidade portuguesa feminina, 1970, p. n/a
- "n/a", in Antero Simões (ed.), Nós somo todos nós, Luanda: Edição dos serviços de publicações do comissariado provinvial M.P., 1969-1970, 3 vol., p. n/a
- Jaime de Figueiredo (ed.), Modernos poetas cabo-verdianos: antologia, Praia: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961:
- "A uma qualquer", p. 125
- "Noite antiga", p. 126-127