Tchalé FIGUEIRA
né en 1953

Biographie


Carlos Alberto Figueira, plus connu sous le nom de Tchalé Figueira, est né le 2 octobre 1953 à Mindelo.
Il émigre à l'âge de 17 ans, bien que de famille aisée, une décision qu'il revendique comme acte politique.
Il réside à Rotterdam, mais rapidement il décide de parcourir le monde et s'engage dans la marine marchande.
En 1974, il s'installe à Bâle, en Suisse, où il suit des cours à la Basel School of Design, qu'il achève en 1979, et commence à peindre.
Onze années plus tard, en 1985, il revient résider à Mindelo où, en plus de la peinture, il s'adonne à l'écriture, le théâtre ou encore la musique.
En 2008, à l'occasion de la Biennale de Dakar, il reçoit un prix de la Fondation Jean Paul Blachere.

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Œuvres littéraires

Bien que l'occupation première et principale de Tchalé Figueira soit la peinture, il s'adonne à l'écriture et publie plusieurs recueils de poésie, ainsi que deux fictions en 2005, Solitário  et  Ptolomeu e sua viagem de circum-navegação. Ce dernier ouvrage est adapté à l'occasion du festival Mindelact, en septembre 2008, par José Leitão (web).
Il collabore de manière ponctuelle avec des périodiques capverdiens, tels que Artiletra  ou Fragata, ou lusophones, tel Plágio  (Portugal).
On le retrouve aussi en tant qu'illustrateur pour l'ouvrage de Joaquim Arena, Um farol no deserto, paru en 2000, et celui de Giselle Neves, Marianinha, paru en 2010.

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(sans titre)

Vagueiam pela sombra companheiro. Solidão, cu de um besouro que perdeu o ferrão na
ilha em que Robinson foi atrevido, ao chamar a um outro como ele de
Sexta-feira.
Negro, Índio e outros, pertencem ao mesmo labirinto de enigmas.
Guarda-chuvas ou sombrinhas, não é a mesma coisa? Depende da situação climatérica
- Borges não me aquece nem me arrefece.

Buda tem mais luz na barriga do que o cego a quem um idiota ofereceu uma lanterna.

Do lado frio da trincheira contempla a tua obra!...
Canta!... Glorifica os teus mortos embrulhados em pus,
Mostra a tua fria carna - cérebros ensopados em silêncio

Átomos em torrentes radioactivas
Crianças deformadas, rostos tingido em urânio,
Cabeças rapadas num hospital de angústias

Ofídias, unhas em fogo
Gladiatores num alfabeto de mortos

Bailando no topo da sua sagrada montanha, um homem
Veste um a cap de vermes... vomita balas - Deus indiferente, observa a sua obra
- Monos tísicos borrifam sangue, nas artérias podres do mundo

África é um tambor encharcado de vírus - Tremendo...
Inércia. Coreografia abominável... tratado de Berlim.
Zebras pútridas, agonizam na savana.

Eu sou a mesquinha deformação no Universo infinito,
A grande obra do Criador.

A tua bondosa perfeição sucumbiu na tua
Traqueia - o som morreu estilhaçado
Pelo negrume do teu peito em cinzas

A tua alavanca exige alar o mundo
Mas a tua casa é ausente de luz - as garras
de um carnívoro mundano, esquartejou teus lábios

Alma de pária - Pássaro banhados
Em urânio, esturricam cabeças calvas de
Anjos.

A tua eterna pantomímica da redenção -

Em câmaras de alumínio silencioso, jazem
Mortos de medalhas ao peito

Numa velocidade luz, ratas sorriem
Numa auto-estrada de falos em delírio

E a terebintina desagua num rio
De fantasmas, nas esquinas do paraíso.

Todos querem visitar o Éden, mas ninguém
Quer morrer.

Nesta casa dermatológica do corpo,
Artérias estatelando-se em rios de sangue

Felicidade de uma rua em fogo exonerado,
Termina a luz do luar na casa do peito

Fotões de uma libélula, átomos de uma abelha,
Favo de mel nos lábios frios da solitária
Paixão.
A morte passeia pela alameda do
Dia, a gangrena cospe nas feridas do mundo




Sedentária a passividade das palavras,
Bisturi amputando pernas na lepra da rotina,
Um tigre de papel no sem nexo da dialéctica

Múmias segredam sabedoria às almas perdidas,
As cidades perdem-se no fumo da devastação,
Transe cacofónico de tubarões submersos
Nas fezes de um profeta sem palavras

Depressiva é a variação de uma orquestra
No crânio de bestas felizes mastigando química

Prosac?!... É a salvação do cadáver ambulante!...

O Mundo caminha chapinhando no coito
De um amanhecer fúnebre, gruta sombria
De um novo dia.

As varizes nas colunas das minhas pernas
Colunas calcinadas pelo incontrolável tempo
A necrófila hiena, o carnívoro leão,
Morte pelo entupimento das artérias coronárias

O coração é um músculo que bombeia sangue; a grande
Maravilha do mundo. O cérebro laguna de átomos,
Genocídio alimento para chacais - Monte de cadáveres
Percorrem a inutilidade dos meus poemas

Sinto as minhas unhas conspurcadas pela terra
Dos coveiros - Saco de podridão lenta, 
Soldado morto no ventre putrefacto
De um alazão, com ligaduras embebidas em sangue

Carpindo nos olhos de uma gazela inocente,
Meia-noite navega na barca que atravessa o sub mundo,
Canhões estilhaçando crianças em inocência

O planeta é obsceno, e, uma mulher vítima
De sodomia de um batalhão de trogloditas,
Fermenta num laboratório de amarguras

Cérebros em obediência,
Tirania de abutres encharcados em sangue
Banqueteando a minha poesia em flor

O mar entra pela cidade adentro
Lava a barriga côncava
De grávidas em fogo...

Constelação de membros teu corpo,
Lua perfurada
Em sangue, carótida cortada
Pela navalha da vida

Tuas pálpebras de pedra
A imensa lassidão do mundo

Navegam na água esférica dos teus seios
Crisálidas, amanhã borboletas negras

A solidão rasga com mórbidas unhas
Teu peito, assobia cães de esófagos podres
Em teus lábios

Uma serpente coral trafica peconha
Na ponta de uma rua irreversível
Cavalo moribundo ferido pela agulha da
Papoila
No alto da minha cidade em luz,

Crânios conspurcados pela espada das trevas,
Dividem num pátio de cadáveres frios em círculo,
Lucros das suas festividades necrófilas

in Destino de bai, 2008, p. 136-131

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Bibliographie


Œuvres

  • O exílio sentimental de Marcus Blum, Funchal (Madeira): Rosa de Porcelana, 2022, 64 p.
  • Txon vendido, Praia: Livraria Pedro Cardoso, 04/2021, 132 p., 24 cm.
  • A idade poética, Praia: Livraria Pedro Cardoso, 12/2018, 75 p., 24 cm. 
  • Curtos, 7 contos, Praia: Pau Tcha Arts, (2017), 40 p., 20 cm.
  • Moro nesta ilha há mais de cinquenta anos e outros contos, (Cabo Verde): Ed. do autor, 2016, 78 p., 20 cm.
  • Uma pequena odisseia mindelense, Praia: Ed. do autor, 2016, 78 p., 20 cm.
  • Solitude blues, Mindelo: Ed. do autor, 2016, 112 p., 20 cm.
  • T.F. / Vasco Martins, Cesária: a rota da lua vagabunda, Coimbra: Associação da Orquestra clássica do centro, 2015, 47 p., 17 cm.
  • A india que procuramos, Praia: Dáda Editora, 12/2012, 72 p., 19 cm.
  • A viagem (poemas), Mindelo: Ed. do autor, 04/2012, 27 p.
  • Contos de Basileia, Praia: Dáda Editora, 2011, 137 p., 19 cm.
  • Solitário: ficção, Praia: IBNL, 2005, 120 p., 21 cm. (coll. Arte e letras, ficção)
  • Ptolomeu e sua viagem de circum-navegação, Coimbra: Mar da Palavra, 2005, 87 p., 22 cm. (coll. Margens lusófonas, n° 1)
  • O azul e a luz, Praia: IBNL, 05/2002, 54 p. (coll. Poesia)
  • Onde os sentimentos se encontram, Praia: Poemas de Sábado, 1998, 28 p.
  • Todos os naufrágios do mundo: poesia, Mindelo: s.n., 1992, 42 p.

Périodiques

  • "Poema", Latitudes: cahiers lusophones. La diaspora capverdienne en France, n° 32 (04/2018), p. n/a
  • "s.t.", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XXV, n° 140 (12/2016), p. 3
  • "s.t.", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano X, n° 42 (12/2001 - 01/2002), p. 2
  • "4 poemas s.t.", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano VIII, n° 29 (05-06/1999), p. 2
  • "A cultura na defesa", A semana, ano V, n° 242 (1996), p. 11

Recueils collectifs - Anthologies - Autres

  • Erica Antunes Pereira / Maria de Fátima Fernandes / Simone Caputo Gomes (ed.), Cabo Verde, 100 poemas escolhidos, Praia: Ed. Pedro Cardoso, 2016:
  1. "Barcos de florestas desaparecidas", p. 137
  2. "Tenho sempre teus olhos na minha cegueira", p. 138
  • Francisco Fontes (ed.), Destino de Bai: antologia de poesia inédita cabo-verdiana, Coimbra: Saúde em português, 06/2008:
  1. "sans titre (A noite cai)", p. 123
  2. "sans titre (Águias voando)", p. 124
  3. "sans titre (Sentado aqui estou)", p. 125
  4. "sans titre (Vagueiam pela sombra companheiro)", p. 126-131
  5. "Estrela do Norte", p. 132
  • Francisco Fontes (ed.), Tchuba na desert: antologia do conto inédito cabo-verdiano, Coimbra: Saúda em português e Autores, 11/2006:
  1. "Ulisses espera Penélope", p. 137-140
  2. "Encontro de amigos", p. 140-144
  3. "Peter e o seu duplo", p. 144-149
  • "s.t.", in Jorge Velhote / Nicolau Saião / Nuno Rebocho (ed.), Na liberdade: 30 anos - 25 de Abril, Peso da Régua: Garça Editores, 2004, p. 265

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Études critiques


  • Dulcina Mendes, "Tchalé Figueira expõe O silêncio musical das cores", Expresso das ilhas, n° 943 (23/12/2019), p. 27
  • A nação: jornal independente, ano XII, n° 642 (19/12/2019):
  1. José E. Cunha, "Tchalé Figueira em entrevista: a arte é uma lanterna nas trevas", p. 8-9 suplemento
  2. José E. Cunha, "A mitológia pessoal de Tchalé Figueira", p. 9 suplemento
  • A nação: jornal independente, ano XII, n° 594 (17/01/2019):
  1. Gisela Coelho, "Depois a censura na Assembleia nacional: Palácio da cultura abre as portas para eróticos de Tchalé Figueira", p. E
  2. Gisela Coelho, "Hipocrisia ou pornografia?", p. E3
  • A.P., "A idade poética  de Tchalé Figueira", Leitura: revista da Livraria Pedro Cardoso, n° 5 (01-03/2019), p. 7
  • O mundo onírico: Tchalé Figueira (Cabo Verde), Ponte de Sor (PT): Ass. Cult. Sete sóis sete luas, 2017, 39 p.  (web)
  • Érica Antunes Pereira, "Um malandro cabo-verdiano na novela Ptolomeu e a sua viagem de circum-navegação  de Tchalê Figueira", in Estudos da AIL em literaturas e culturas africanas de língua portuguesa, Santiago de Compostela / Coimbra: Associação internacional de lusitanistas, 11/2015, p. 21-27  (web)
  • Roberto Zaugg, "Von der Schweiz und ihren Frauen Kapverdischer Künstler dreht Perspektive um (Review of Contos de Basileia)", Afrika-Bulletin, n° 153 (2014), p. 12-13  (web)
  • Érica Antunes Pereira, "Um malandro cabo-verdiano na novela Ptolomeu e a sua viagem de circum-navegação  de Tchalê Figueira", Forma breve (São Paulo), n° n/a (2013), p. 209-221  (web
  • anonyme, "Tchalê Figueira: É imprescindível fomentar a criatividade", Nos Genti, n° 16 (06/2012), en ligne  (web)
  • Ricardo Silva Ramos de Souza, "Para não esquecer o passado? Breve história colonial em África, pinturas de Tchalé Figueira", Triplov  (Lisboa), n° n/a (01/01/2012), p. n/a
  • Ricardo Silva Ramos de Souza, "Tchalé Figueira - Contos de Basileia", A nação, n° n/a (19/05/2011), p. 23
  • Ricardo Silva Ramos de Souza, "Tchalé Figueira - Ptolomeu e a viagem de circum-navegação", A nação, n° n/a (02/09/2010), p. 18
  • Roger Pierre Turine, "Tchalé Figueira, ou la tête dans les étoiles", Africultures, n° 77-78 (2009), p. 230-232  (web)
  • G.T. Didial, "Tchalé Figueira: pintor das grandes e pequenas visissitudes cabo-verdianas (Cidadão, n° 4 (09/1999))", Anais, vol. II, n° 3 numéro especial (12/2000), p. 97-99
  • Luís Carvalho, "Tchalé Figueira: pintar é uma maneira de me sentir bem comigo", Fragata: revista de bordo da TACV, n° 17 (1998), p. 27-32

Onde os sentimentos...

(1998)

O azul e a luz

(2002)

Solitário

(2005)

Ptolomeu...

(2005)

Contos de Basileia

(2011)

A viagem ...

(2012)

A India ...

(2012)

Solitude blues

(2016)

Moro nesta ilha...

(2016)

Curtos...

(2017)

A idade poética

(2019)

Txon Vendido

(2021)

O exílio sentimental...

(2022)

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