António NUNES
(1917 - 1951)
Biographie
Antonio Nunes est né le 9 décembre 1917 à Praia et meurt le 14 mai 1951 à Lisbonne.
Après le lycée, il se lance dans le commerce. En 1940, il part s'établir à Lisbonne.
Souffrant de troubles psychiques, il est interné à deux reprises dans un hôpital oú il décède finalement d'une d'une méningo-encéphalite.
Il occupe le siège n° 24 des Patronos / Imortais da Academia Cabo-verdiana de Letras, fondée en 2013.
Oeuvres littéraires
António Nunes offre un corpus restreint d'une centaine de poèmes et d'une nouvelle, faute à un corps malade et des temps difficiles.
Son premier recueil paru en 1938, Devaneios, est dans le plus pur style romantique, alors même que les Claridosos sont entrés en lice avec la publication de 3 numéro de la revue Claridade à Mindelo entre 1936 et 1937.
Il lui faudra se rendre à Lisbonne en 1940 et fréquenter le groupe néo-réaliste, dans lequel il retrouvera son compatriote Teixeira de Sousa, pour que son style change diamétralement et se tourne à son tour vers le capverdianisme ambiant. Signe de ce changement, il publie dans le deuxième numéro de la revue Certeza, en première page, son "Poema de amanhã".
Pour rappel, les années 1940 sont terribles pour l'archipel. Alors que la Seconde Guerre mondiale fait rage sur le continent et un peu partout dans le monde, le Cap Vert est livré à lui-même et la sécheresse sévit. Résultat: deux terribles famines, en 1943 et 1947, dont l'écho se retrouve profondément ancré dans l'oeuvre d'António Nunes.
Enfin, en 1945, il publie un recueil, Poemas de longe, oeuvre majeure dans la littérature capverdienne, au même titre que Chiquinho (1947) de Baltasar Lopes ou Ambiente (1941) de Jorge Barbosa.
RlTMO DE PILÃO
Bate, pilão, bate,
que o teu som é o mesmo
desde o tempo dos navios negreiros,
de morgados,
das casas-grandes,
e meninos ouvindo a negra escrava
contando histórias de florestas, de bichos, de encantadas...
Bate, pilão, bate
que o teu som é o mesmo
e a casa-grande perdeu-se,
o branco deu aos negros cartas de alforria
mas eles ficaram presos a terra por raízes de suor...
Bate, pilão, bate
que o teu som é o mesmo
desde o tempo antigo
dos navios negreiros...
(Ai os sonhos perdidos lá longe!
Ai o grito saído do fundo de nos todos
ecoando nos vales e nos montes,
transpondo tudo...
Grito que nos ficou de traços de chicote,
da luta dia a dia,
e que em canções se reflecte, tristes...)
Bate, pilão, bate
que o teu som é o mesmo
e em nosso músculo está
nossa vida de hoje
feita de revoltas!
Bate, pilão, bate!...
Cabo Verde, n° 108 (1958)
CRISE
Gritam os Homens
gritam
presos para além das montanhas
como se fossem escravos...
Terra, sempre a terra, porque a terra é tudo:
roçam lantunas, rasgam clareiras e arbrem covas
perscrutando nuvens
- porque a chuva é tudo:
Terra sem água é uma mulher sem homem.
Por isso, pelo dia, olham o céu;
e, quando a noite chega, um suico cava
mais fundo do que a enxada sobre a terra.
Embranqucem cabelos,
enquanto ao sol as folhas vão torrando;
morrem
porcos, galinhas,
homens, mulheres e, tambem, crianças...
Água! Água!
Gritam os homens
para além das montanhas.
Vértice, n° 64 (1948)
Bibliographie
Oeuvres
- Poemas de longe, Linda-a-Velha: ALAC, 1988, 54 p., 23 cm. (coll. Para a história das literaturas africanas de expressão portuguesa, n° 7 / pref. Jaime de Figueiredo)
- Poemas de longe, Praia: ICL, 1988, 54 p., 23 cm. (pref. Jaime de Figueiredo)
- Poemas de longe, s.l.: s.d. (Lisboa: Emp. nac. de publicidade), 1945, 32 p., 24 cm.
- Berta amava outro!...: novela, s.l.: s.n. (Lisboa: Tip. Cadeia Penitenciára), 1944, 93 p., 21 cm.
- Devaneios, s.l.: s.n. (Praia: Tip. Minerva de Cabo Verde), 1938, 89 p., 17 cm.
Périodiques
- "Poema de amanhã", Garcia de Orta, vol. IX, n° 1 (1961), p. "capa contra capa"
- "Poema da chuva caindo", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 120 (09/1959), p. 17
- "Ritmo de pilão", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 108 (09/1958), p. 15
- "Serra da estrela", Panorama, n° 39 (1949), p. 86-88
- "Crise", Vértice, n° 64 (1948), p. n/a
- "Paisagem", Certeza: fôlha da academia, n° 3 (01/1945), p. 5
- "Poema de amanhã", Certeza: fôlha da academia, n° 2 (06/1944), p. 1
- "Reportagens imprevistas um parque romântico no Algarve", Panorama, n° 3 (1941), p. 29
Recueils collectifs - Anthologies - Autres
- Erica Antunes Pereira / Maria de Fátima Fernandes / Simone Caputo Gomes (ed.), Cabo Verde, 100 poemas escolhidos, Praia: Ed. Pedro Cardoso, 2016:
- "Poema de amanhã", p. 56
- "Ritmo de pilão", p. 57
- "Terra", p. 58-59
- Carmen Lúcia Tindó Ribeiro Secco (ed.), Antologia do mar na poesia africana de língua portuguesa do século XX, vol. II: Cap Vert, Rio de Janeiro: UFRJ, 1999:
- "Moça do sobrado", p. 51-52
- "Maninho di Nha Noca", p. 52-53
- (IT) "Terra", in Roberto Francavilla / Maria R. Turano (ed.), Isole di poesia: antologia di poeti capoverdiani, Lecce: Argo, 04/1999, p. 65-66
- "Poema de longe", in Salvato Trigo (ed.), Matrilíngua: antologia de autores de língua portuguesa, vol. II, Viana do Castelo: Câmara municipal de Viana do Castelo, 1997, p. 218-219
- Manuel Ferreira (ed.), 50 poetas africanos (Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe), Lisboa: Plátano editora, 1989 (1a ed.) / 1997 (2a ed.: pagination ci-dessous):
- "Poema de longe", p. 196
- "Caminho grande", p. 197
- "Moça do sobrado", p. 197-198
- "Mané Santo", p. 198
- "Maninho di nha Noca", p. 199-200
- "Terra", p. 200
- "Poema de amanhã", p. 201-202
- Lúcia Cechin (ed.), Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe: poesia e conto, Porto Alegre (Brasil): UFRGS, 1986:
- "Maninho di Nha Noca", p. 17
- "Terra", p. 18
- Mário de Andrade (ed.), Antologia temática da poesia africana (vol. I: Na noite grávida dos punhais), Lisboa: Sá da Costa, 1975:
- "Poema de amanhã", p. 39
- "Terra", p. 40-41
- Manuel Fereira (ed.), No reino de Caliban: antologia panorãmica da poesia africana de expressão portuguesa (vol. I: Cabo Verde / Guinée-Bissau), Lisboa: Seara Nova, 1975:
- "Poema de longe", p. 129-130
- "Crise", p. 130-131
- "Ritmo de pilão", p. 131-132
- "Morna", p. 132
- "Caminho grande", p. 132
- "Moça do sobrado", p. 133
- "Maninho di Nhâ Noca", p. 134-135
- "Juca", p. 135
- "Terra", p. 135-136
- "Poema de amanhã", p. 137
- (FR) "Poème de demain", Mario de Andrade (ed.), La poésie africaine d'expression portugaise, Honfleur: ed. Pierre Jean Oswald, 1969, 56-57
- Mário de Andrade (ed.), Literatura afrícana de expressão portuguesa, vol. 1: poesia, Alger (Algérie): n/a, 1967, 326 p. (reprint: Lendeln: Kraus Reprint, 1970):
- "Poema de amnahã", p. 25-26
- "Terra", p. 27-28
- "Crise", in Luís Forjaz Trigueiros (ed.), Cabo Verde, Guiné, S. Tomé e Príncipe, Macau e Timor: o Ultramar português, Lisboa: Livraria Bertrand, 1963, p. 72-73
- Jaime de Figueiredo (ed.), Modernos poetas cabo-verdianos: antologia, Praia: Edições Henriquinas Achamento de Cabo Verde, 1961:
- "Poema de amanhã", p. 75-76
- "Terra", p. 77-78
- "Juca", p. 79
- "Crise", p. 80
- "Ritmo de pilão", p. 81-84
Etudes critiques
- Paulo Lobo Linhares, "António Nunes - a morna, o Baile... e os Poemas de longe", Expresso das ilhas, n° 891 (24/12/2018), p. 33
- José Luis Hopffer C. Almada, "No centenário do nascimento de António Nunes" (Lisboa, 30/11/2017), Santiago Magazine, n° n/a (07/12/2017), en ligne (web)
- Manuel Brito Semedo, António Nunes o poeta visionário, Praia: Movimento pró-cultura, 1988, 6 p. (version dactylo: web)