Maria Helena SPENCER
(1911 - 2006)

Bibliographie

Maria Helena Branco Freire de Andrade Salazar d'Eça Spencer Santos, plus connue sous le nom de Maria Helena Spencer, est née le 3 avril 1911 à Praia et meurt en octobre 2006, à Faro, au Portugal, à l'âge de 95 ans.
Fille de Laura da Piedade Branco Freire de Andrade Salazar d'Eça (1873-1939), originaire de Lisbonne, et de João Leandro Spencer Santos, originaire de Boa Vista, elle se met en couple avec Júlio Miguel Monteiro Jr. (1907-1979), dont elle a un fils, Antero Jéronimo.
Elle étudie au Colégio das Doroteias, à Sintra. Puis elle rentre au Cap Vert et devient fonctionnaire des postes, ainsi que reporter journaliste. Par la suite, elle devient professeure sur l'île de Brava, à Nossa Senhora do Monte. A la suite de menaces, elle déménage au Portugal où elle vit à Lisbonne, puis à Faro.

Elle est considérée comme la première femme journaliste du Cap Vert et pour cette raison, elle occupe le siège n° 22 des Patronos / Imortais da Academia Cabo-verdiana de Letras, fondée en 2013.

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Oeuvres littéraires


Maria Helena Spencer est avant tout une journaliste. Elle tient une chronique dans la revue Cabo Verde et réalise des émissions de radio à la Rádio Clube de Cabo Verde.
Elle publie par ailleurs des contes.
L'ensemble de son oeuvre a été regroupé et édité par Ondina Ferreira et l'Instituto da biblioteca nacional e do livro (IBNL) en 2005, sous le titre Contos, crónicas e reportagens
Malgré tout, une étude complète reste à faire.

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ESTA TERRA IGNORADA...

                          Ao Prof. Dr. Amorim Girão
                          Aquele que, sem nos conhecer,
                          se sentiu nosso irmão.


Cabo Verde não é apenas a terra das hecatombes espantosas nos anos de seca, nem o canto despreocupado da terra onde a morna dolente se ouve mais alto do que as notícias que nos falam do deflagrar das bombas e canhões do mundo em luta.
Não, é isso, mas é também mais.
Nestas ilhas que um capricho da natureza criou tão semelhantes à Europa como à África, habitadas por um povo resultante da fusão de duas raças diferentes mas que a si mesmas se completam, há uma vida complexa, cheia de facetas, que merece ser observada - não apenas, entre a chegada e saída de qualquer barco de passageiros, nos antros proibidos de Monte Socego ou na monotonia da Praça Alexandre de Albuquerque.
Não, é preciso conhecer esta terra, ter vivido a sua vida, um pouco por toda a parte, - no Mindelo como no interior do Fogo ou de Santo Antão - para se compreender a sua gente, se sentirem e aceitarem os seus problemas.
Em cada ilha o povo tem uma psicologia diferente, uma feição diversa: em S. Vicente, alegre e seguro de si próprio; em Santiago, sério e desconfiado; na Brava, meigo e acolhedor; no Fogo, senhoril e orgulhoso como um velho fidalgo de outras eras; no Maio e na Boa Vista, sóbrio e enérgico; em S. Nicolau, antiga residência de padres e Bispos, sereno e crente, vivendo uma vida patriarcal; em Santo Antão, inteligente e lutador...
Nem as classes mais elevadas têm a mesma feição em toto o Arquipélago: caracteristicas comuns, sim, resultantes de uma educação e cultura idênticas adquiridas nas mesmas fontes, mas com todas as diferenciações resultantes de hábitos diferentes, maneiras de ser diversas.
E os problemas surgem, numa complexidade assombrosa, desde os que se prendem com a alimentação de milhares de criaturas cuja vida depende da quantidade de água que as nuvens possam deixar cair sobre a terra sempre sequiosa, ao desejo de partir para onde quer que seja, numa ânsia de evasão que quase sempre se frustra em contacto com a realidade.
O Cabo-Verdiano não é só o homem de vida incerta dos campos; é também um ser inquieto que se sente prisioneiro entre as suas ilhas e o mar e por isso sonha sempre com uma libertade em que tudo seja belo e acessível.
E é esse sonho que muitas vezes lhe fecha os olhos à realidade das coisas palpáveis para só ver aquilo que supõe existir para além da linha do horizonte.
É essa ansiedade que vive nos poemas de Jorge Barbosa e de muitos outros que na poesia encontraram a sua libertação.
Cabo Verde é também a terra jóvens e cheia de esperanças em que se trabalha procurando recuperar o tempo perdido - os longos anos de inacção e desesperança.
E, se é a terra dos "bailes nacionais" e do batuque de requebros sensuais em que a mulata dengosa revive todo o primitivismo da África negra, é também a terra das mães conscientes que aprenderam a preparar os homens do futuro, desde a infância mais humilde e desprotegida...
É a terra onde as mulheres que outrora viviam na indolência abastada dos "sobrados", rodeadas das escolas, dos hospitais, onde ganham a vida, esquecidas já da antiga ignorância e inutilidade...
É onde os mais humildes filhos do povo enchem as escolas e liceus, numa ânsia sempre crescente de conhecimentos que os elevem cada vez mais, ultrapassando todas as barreiras...
Em Cabo Verde debalde se procurariam os grandes gestos que ficam na História e na lenda ou os grandes erros que a humanidade recorda com horror - tudo é sereno, tranquilo, suave, como o nosso clima e as águas azues do Atlântico à volta das nossas ilhas.
Quem vem para Cabo Verde, é quase sempre forçado a isso; mas são raros os que saem sem mágoa, os que não sentem, ao deixar para trás a última ponta árida de Santiago ou de S. Vicente, que alguma coisa de si próprio ficou aqui... para sempre!

Cabo Verde, n° 120 (09/1959), p. 8-9

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Bibliographie


Oeuvres

  • Maria Helena Spencer: contos, crónicas e reportagens, Praia: IBNL, 2005, 246 p., 22 cm. (selecção de textos, notas e coord. Ondina Ferreira)

Périodiques

  • "(um conto: mesmo O archipélago)", Diário popular, n° n/a (27/02/1969), p. n/a
  • "(um conto)", O archipélago, n° 342 (06/03/1969), p. n/a
  • "Meu Deus!...", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano XIII, n° 150 (03/1962), p. 8-11
  • "Dois instantâneos cabo-verdianos", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano XI, n° 125 (02/1960), p. 9-10
  • "O homem do leme", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 122 (11/1959), p. 9-11
  • "Esta terra ignorada...: ao Prof. Dr. Amorim Girão", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 120 (09/1959), p. 8-9
  • "Meu irmão branco", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 116 (05/1959), p. 11-13
  • "Hás-de ter um colar...", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 114 (03/1959), p. 24-25
  • "O que os meus olhos viram: as obras da B.T.E.T.H. em São Francisco", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano X, n° 111 (1958), p. 23-26
  • Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 107 (08/1958):
  1. "Madrigal", p. 13-17
  2. "Entrevista com o Presidente da Câmara de São Vicente, Sr. Júlio Bento de Oliveira", p. 18-23
  • "Nota do mês", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 104 (05/1958), p. 1-2
  • Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 103 (04/1958):
  1. "Crucifica-O!", p. 1-2
  2. "O que nos diz o Sr. provedor-geral da Assistência pública", p. 24-29
  • "O que nos diz o Sr. provedor-geral da Assistência pública", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 102 (1958), p. 24-29
  • Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 100 (01/1958):
  1. "Luz... e sombra", p. 14-16
  2. "Que pensa do Boletim Cabo Verde ?", p. 24-30
  • Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IX, n° 97 (10/1957):
  1. "Vieram as chuvas...: instantâneo cabo-verdiano", p. 9-11
  2. "Entrevista com S. Ex.a Rev.a o Bispo de Cabo Verde", p. 16-19
  • "A ilha Brava (extraído do programa "Arco Íris" da Rádio Barlavento)", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VIII, n° 96 (1957), p. 10-11
  • "Volta", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VIII, n° 91 (1957), p. 6-8
  • "O que os meus olhoas viram...", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano  VIII, n° 87 (1956), p. 17-19
  • "Páscoa", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VII, n° 79 (1956), p. 1-2
  • "Folhas de um diário", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VI, n° 71 (08/1955), p. 6-8
  • "Saudade", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VI, n° 70 (07/1955), p. 5-6
  • "Mindelo, uma surpresa", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VI, n° 68 (05/1955), p. 9-12
  • "Revista da cidade", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VI, n° 67 (04/1955), p. 9-11
  • "Actividade da assistência pública em Cabo Verde: uma entrevista de M.H.S com o provedor-geral", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano VI, n° 65 (02/1955), p. 20-26
  • "Aqui... Cabo Verde", Revista d'aquém e d'além mar, ano V, n° 60 (1955), p. 12-14
  • "Incompreensão", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 62 (1954), p. 19-20
  • "Folhas de um diário", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 61 (1954), p. 3-5
  • "Folhas de um diário", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 59 (1954), p. 14-16
  • "Eu quis fugir também", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 56 (1954), p. 2-4
  • "Também sabemos sorrir", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 54 (1954), p. 2-3
  • "Folhas de um diário", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 53 (1954), p. 7-8
  • "A ronda do Pai Natal", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 52 (1954), p. 9-11
  • "As mulheres na restauração da Independência", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 51 (1953), p. 9-10
  • "O que eu vi, uma noite, no cais", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 50 (1953), p. 25-26
  • "Ensinemos o povo", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano V, n° 49 (1953), p. 25-26
  • Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IV, n° 47 (1953):
  1. "Historia de um manequim", p. 2-3
  2. "Bairos da cidade", p. 16-19
  • "Sem rumo", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IV, n° 46 (1953), p. 13-15
  • "Problemas do ensino em Cabo Verde", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IV, n° 45 (1953), p. 20-24
  • Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IV, n° 44 (1953):
  1. "O regresso: menção honrosa do concurso o melhor contista de 1952", p. 13-15
  2. "A religião em terras de Cabo Verde", p. 24-29
  • "Semana santa", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IV, n° 43 (1953), p. 20-24
  • "Folhas de um diário", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano  IV, n° 41 (1953), p. 25-27
  • "Folhas de um diário", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano IV, n° 40 (1953), p. 5-8

Recueils collectifs - Anthologies - Autres

  • "n/a", in Ondina Ferreira (org.), Elas contam..., Praia: IBLN, 2008, p. n/a
  • (?) H.S. / Elvira Hugon, "República da Guiné-Bissau: um passo em frente nos caminhos do planeamento", Economia e socialismo  (Lisboa), n° 51? (06/1980), p. 29-42

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Etudes critiques


  • Lisiane Oliveira e Lima Luiz, Uma leitura comparada da hora di bai nas obras  Contos com lavas de Ondina Ferreira et  Contos, crónicas e reportagens de Maria Helena Spencer  (tese de mestrado), Porto Velho (Brasil): Universidade federal de Rondônia, 2018, n/a p.
  • Lisina Oliveira e Lima Luiz, "A hora di bai nos contos "Uma história entre muitas" de Maria Helena Spencer et "A troca" de Ondina Ferreira", Caderno de Resumos do 1o COEL  (Porto Velho), vol. 1 (2016), p. 2-57  (web)
  • Ondina Ferreira, "Nos 101 anos do nascimento de Maria Helena Spencer", coral-vermelho.blogspot.com, 16/05/2012, en ligne  (web)
  • Manuel Brito Semedo, "Maria Helena Spencer - Memórias da Rádio Barlavento", Esquina do tempo, 05/05/2012, en ligne  (web)


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