Gertrude Ferreira LIMA
alias Humilde Camponeza ou Obscura Paulense
(? - 1915)

Biographie


Comme pour nombre d'auteur de la première période de la littérature capverdienne, on ne sait quasiment rien de la vie de Gertrude Ferreira Lima. L'essentiel de l'information provient de la notice de Nuno Catharino Cardoso publiée dans son ouvrage Poetisas portuguesas. Antologia contendo dados bibliograficos et biograficos ácêrca de cento e seis poetisas  (1917),  et dans laquellle, en fait, il décrit surtout l'île de Santo Antão qu'il connaît personnellement et les "hommes" célèbres qui en ont foulé le sol.

Au final, on sait seulement que Gertrude Ferreira Lima est née sur l'île de Santo Antão, dans la vallée de Paul, qu'elle a étudiée au Collège des Ursulines de Coimbra, au Portugal, et que par la suite, elle écrit de la poésie, probablement résidant à Lisbonne (cf. Almanach luso-africano, 1894, p. 76: poème signé de cette ville).
Et puis c'est tout!

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Oeuvres littéraires


Gertrude Ferreira Lima a collaboré à l'Almanach luso-africano  de 1894 et de 1898, ainsi qu'au Novo Almanaque das Lembranças luso-brasileiro  durant la même période. 
Elle apparaît donc comme étant une des premières poétesses de l'archipel.
Publiant sous les pseudonymes de Humilde Camponeza ou de Obscura Paulense, elle fournit  une oeuvre peu prolixe, mais de qualité du dire de certains, dont l'essentiel reste cependant à découvrir.

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SAUDACÃO

Eu vos saudo magestosas serras, 
Montes e valles, verdejantes plagas!
Doce mysterio que na gruta encerras, 
Perfumes da tarde, harmonias vagas!

Eu vos saudo laranjaes floridos
ribeiro manso que o luar pratea?
Celestes lumes da amplidão cahidos
Frondente ramo que p'ra Deus s'altea!

Eu vos saudo murmurosas aguas,
Que meigas fallas segredaes ás flores,
Do peito triste minorando as aguas
E o curtimento de profundas dôres!

Eu vos saudo, indos vós, n'est'ancia,
E, hoje, a mente n'esta augusta hora:
Relembra mais a minha, dôce infancia,
Prazer suave que minh'alma adora.

Ah! que saudade n'este peito enfermo
Da pobre mãe que foi gentil e meiga!...
Amor divino que enflora o ermo,
Matiz rizonho que tapiza a veiga!

Oh! como sinto um turbilhão d'ideias
Aqui sosinha contemplando os montes,
Virentes cumes, crystalinas velas,
Ouvindo meigo o sussurrar das fontes!

E que hoje lembro com tristeza infinda
Ridentes plainos, outro campo bello,
Affectos puros, como a aurora linda,
Ou como das avec o cantar singelo.

E vós, perfumes de manhã festiva,
Fulgente esirella de pallôr formoso,
Quebrae-me as pelas porque sou captiva
Levae-me aquelle Portugal formoso.

Humilde Camponeza (Gertrude Ferreira Lima, alias)
Novo almanach de lembraças luso-brazileiro para o anno de 1893, Lisboa, 1892, p. 214

ESPERANCA

(A Viriato Augusto Pereira de Mello e sua esposa D. Angelina de Mello)

A chorar entrei no mundo
A chorar eu sempre estou
Como a ave do deserto
Que tão pobre e só ficou.

O nordeste do infortunio
Matou-me bem cedo a côr
Das rosas da juventude
E legou-me em paga a dor.

Candida flor da minha alma,
Arca santa do infeliz!
Oh, não me deixes, não fujas,
Se me queres vêr feliz.

Tarda-me já um lampejo
Do teu aurif'ro clarão
Que anniquile o soffrimento
Da minha p'regrinação.

Não me negues, Esperança,
O teu riso divinal,
É como o doce carinho
D'um coração maternal.

Vem segredar-me baixinho
Fallar me d'um ceo d'anil
Das fontes e das florinhas
Qu'inda verei vezes mil.

Morrer!... ai, é cedo ainda...
Eu amo tanto o meu lar
As Flores por mim cuidadas
Que não n'as quero deixar.

São a festiva alvorada
Fulgente d'oiro e de luz
Que a minha vida illumina
E ao doce bem me conduz.

Candida flor da minh'alma,
Arca santa do infeliz!
Oh, não me deixes, não fujas
Se me queres vêr feliz.
(Santo Antão - Cabo Verde)

Humilde Camponeza (Gertrude Ferreira Lima, alias)
Amanach luso-africano para 1895, Lisboa, 1894, p. 219

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Bibliographie


  • Humilde Camponesa, "Ao meu intelligente compatriota Viriato Gomes da Fonseca (Distincto tenente d'artilheria)", Revista de Cabo Verde, n° 3 (03/1899), p. 102-103; rééditionArtiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XXII, n° 114-115 (01-03/2013), p. 3
  • António Manuel da Costa Teixeira  (dir.), Almanach luso-africano ilustrado para 1899..., Lisboa: Guillard, Aillaud e Cia1898 (reprint: Coimbra: Edições Almedina / Lisboa: CLEPUL, 2011):
  1. Obscura Paulense, "Soneto", p. 68
  2. Obscura Paulense, "O orphão", p. 70-71
  3. Humilde Camponeza, "A lyra doente", p. 76
  4. Humilde Camponez, "Adeus", p. 164-165
  5. Humilde Camponeza, "Threno", p. 206
  • Humilde Camponesa, "A pedido de Júlio Dumont",  in António Xavier de Sousa Cordeiro (dir.), Novo almanach de lembranças luso-brasileiro para 1899..., Lisboa: n/a, 1898, p. 367; réédition: Almanaque..., vol. I (1851-1900), Praia: IBNL, 2012 (reprint: 2014), n° 340, p. 343
  • Humilde Camponesa, "Á minha última visita a João de Deus", in António Xavier de Sousa Cordeiro (dir.), Novo almanach de lembranças luso-brasileiro para 1898..., Lisboa: n/a, 1897, p. 330; rééditionAlmanaque..., vol. I (1851-1900), Praia: IBNL, 2012 (reprint: 2014), n° 333, p. 338
  • António Manuel da Costa Teixeira  (dir.), Almanach luso-africano ilustrado para 1895..., Lisboa: Livraria de Antonio Maria Pereira, 1894; reprint: Coimbra: Edições Almedina / Lisboa: CLEPUL, 2011:
  1. Humilde Camponesa, "Confissão (a minha querida e boa amiga Anna Alves Loreto)", p. 103
  2. Humilde Camponesa, "Um grande heroe cabo-verdeano (a meus bons amigos Viriato A. Pereira de Mello e Roberto Duarte Silva)", p. 118-120
  3. Humilde Camponesa, "Perpetuas (ao meu presadissimo sr. Antonio C. Monteiro Junior...)", p. 136
  4. Humilde Camponesa, "Esperança (a Viriato Augusto Pereira de Mello e sua esposa D. Angelina de Mello)", p. 219
  • Humilde Camponesa, "Á menina Romaninha de Melo, criança de 6 anos",  in António Xavier de Sousa Cordeiro (dir.), Novo almanach de lembranças luso-brasileiro para 1894..., Lisboa: n/a, 1893, p. 330; rééditionAlmanaque..., vol. I (1851-1900), Praia: IBNL, 2012 (reprint: 2014), n° 287, p. 304
  • Humilde Camponesa, "Saudação",  in António Xavier de Sousa Cordeiro (dir.), Novo almanach de lembranças luso-brasileiro para 1893..., Lisboa: n/a, 1892, p. 214; rééditionAlmanaque..., vol. I (1851-1900), Praia: IBNL, 2012 (reprint: 2014), n° 266, p. 288
  • Humilde Camponesa, "Bem-haja", in António Xavier de Sousa Cordeiro (dir.), Novo almanach de lembranças luso-brasileiro para 1892..., Lisboa: n/a, 1891, p. 482; rééditionAlmanaque de lembranças luso-brasileiro. Presença cabo-verdiana, vol. I (1851-1900), Praia: IBNL, 2012 (reprint: 2014), n° 262, p. 284

Etudes critiques


Aucune biographie, étude ou autre article n'existe à notre connaissance sur cette auteure.
Le peu d'informations provient des sources suivantes:

  • Site web Esquino do tempo  de Manuel Brito-Semedo: page "Os fondadores da literatura de raiz CV" (25/01/2015)  (web)
  • Site web Coral Vermelho: page "Um episódio interessante..." par Ondina Ferreira (16/05/2013)  (web)
  • João Nobre de Oliveira, A imprensa cabo-verdiana 1820-1975, Macau: Fundação Macau, 1998, p. 59-61 et 750 (notice biographique)
  • Agostinho Rocha, Subsídios para a História da ilha de Santo Antão (1462-1983), Praia: Imprensa nacional de Cabo Verde, 1990, p. n/a
  • Nuno Catharino Cardoso, Poetisas portuguesas. Antologia contendo dados bibliograficos et biograficos ácêrca de cento e seis poetisas, Lisboa: Livraria scientifica, 1917, p. 157-160  (web)

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