José Luís TAVARES
né en 1967
Biographie
José Luís (Luíz) Tavares est né le 10 juin 1967, à Chão Bom, dans le concelho de Tarrafal, sur l'île de Santiago.
Durant un cursus scolaire normal à Tarrafal, puis au lycée Domingo Ramos, à Praia, Tavares n'en a pas moins une enfance difficile, obligé de travailler dès l'âge de 12 ans (en parallèle de l'école) comme aide maçon.
Il poursuit ses études au Portugal, dans les domaines de la Littérature et de la Philosophie.
Il réside actuellement au Portugal, ce qui a été l'une des raisons d'un vif et long échange avec le Ministre de la Culture actuel, Abraão Vicente, en automne 2017 (web).
Œuvres littéraires
José Luíz Tavares est surtout et avant tout un écrivain - poéte.
Il utilise parfois le pseudonyme Maria Ferreira.
Il fait ses premières armes en littérature en créant et dirigeant la feuille Aurora au lycée Domingos Ramos de Praia. Il collabore par la suite avec la revue Fragmentos, du Mouvement pró-cultura, dont il devient finalement membre.
Dynamique et studieux, on lui doit une dizaine d'ouvrages en quinze ans, partagés entre recueils de poésie et fiction, et qui ont été traduits, d'après des renseignements auto-biographiques, en allemand, anglais, en catalan, en espagnol, en finlandais, en français, en galois, en hollandais, en italien, en letton, en mandarin ou encore en russe.
Dans le même temps, il reçoit un nombre conséquent de prix et récompenses en particulier pour ses écrits destinés à la jeunesse: (web)
- Prémio Vasco Graça Moura / Imprensa nacional Casa da moeda, en 2018
- Prémio BCA / Academia caboverdiana de letras (ACL) en 2016, pour Rua antes do Céu.
- Prémio "Literatura para todos" du Ministère de l'Education du Brésil, reçu 3 années consécutives (2008-2009-2010), pour, respectivement, Os secretos acrobatas, À bolina em redor do Natal, et un autre à préciser.
- Prémio de poesia Cidade de Ourense (Espagne), en 2010, pour As irrevogáveis trevas de Baldick Lizandro: première fois que ce prix espagnol est remis à un auteur de langue portugaise (web)
- Prémio Pedro Cardoso, par le Ministère de la Culture, en 2009, pour Tempu di dilubri (en créole)
- Prémio Jorge Barbosa, par l'Association des écrivains capverdiens (AEC), en 2006
- Prémio Mário António de poesia, par la Fondation Calouste Gulbenkian, en 2004, pour Paraíso apagado por um trovão
- Prémio revelação Cesário Verde, par la Cãmara municipal de Oeiras, en 1999
E nos velds corre sangue
Rio insano erguido do seu percurso
Em silenciosos cantares fúnebres
Cercas putrefactas em silêncio gélidos
Carnes doiradas talhadas no umbral da morte
Esculturas-mártires em viva madeira de ébano
Mas, irmão, levanta a fronte
Lá em baixo desponta o sol
Em sussurro inquieto estampado na cara
Sacudindo a neblina densa
Abrindo caminho para a libertade
No vómito laranja dos brinquedos metálicos
Na purpúrea cadência da ave agoirenta
Dança bem a tua valsa
A alma do spartaco encarcerado
Chega a ti em sinfonia divina
Acordes plangentes que o vento tenta abafar
Mas, cada fantasma que emerge à tua frente
Alimenta o teu urro de dor incontido
Que na campa dos vivos-mortos
Cai em epitáfios dormentes
Os grilhões caíram sem estrondo
Na calçada manchada de sangue
Galáxia de corcéis sanguinários
Na madrugada do dia D
Na despedida do mito-cadáver
Lá longe já se ouve
o rítmico dobre dos sinos
E o grito da cidade inteira
Enquanto os caixões seguem lugubremente
Para a campa outrora amedrontada
E da carne dos homens-mártires
nasceu uma raquítica rosa vermelha
Florida em pétalas de liberdade
Cantando a epopeia dos tempos passados
E o seu odor alviverde
Abria as janelas dos dias vindouros.
in Mirabilis de veias ao sol, 1998, p. 322-323
Ao Ovídio Martins
Poeta da liberdade
Quando eu derrotar o istmo da noite
Com o meu dardo de luz
Minha ilha algures
Enfeitarei o teu corpo
Enfeitarei as tuas montanhas
Com as algas da atlântida
Desfeita na folhagem da água
Fechando sobre o teu corpo
O ruído da areia cantando
Inscreverei sobre o teu rosto
Quinhentas vezes dilacerado
Todos os fonemas perdidos
No vácuo do teu grito
Arrrrancarei a última luz do horizonte
Sucumbindo sob as mãos do silêncio
E incrustá-la-ei com pás e enxadas
Às tuas pálpebras eternamente enegrecidas
Pela fuligem venenosa que ontem
Amordaçou (?) os teus sonhos
Hei-de te dar um nome
E uma idade obscura
Inscritos nas pedras
Que se hão-de espelhar pelas ruas
E nos caminhos que se hão-de abrir
Hei-de te dar o verde do céu
o azul do sol-poente
e o neutro nascendo na obliquidade
Dos dias em chamas
Hei-de te dar as aves da terra
E suas sombras no céu
E um vasto olhar que se abrirá
Sobre as profundezas do abismo
Por obra e graça do teu grito
Do cadáver putrefacto do tempo
Erguer-se-ão várias colinas e montanhas
De palavras gestos e sons livres
Onde ao vento de teu olhar
Refluirão as ervas do teu ninho
E a bandeira do teu corpo liberto
in Mirabilis de veias ao sol, 1998, p. 330-331
Bibliographie
Œuvres
- Uma pedra contra o firmamento, Praia: Livraria Pedro Cardoso, 2022, 570 p.
- É ka lobu ki fase, s.l.: s.n., 2022, n/a p. (web)
- (ES) Prólogo a la invención del diluvio / Prólogo à invenção do dilúvio, : Puro Pássaro (Ediciones Vestigio), 2018, p.
- Polaróides de distintos naufrágios, Funchal (Madeira): Rosa de Porcelana, 06/2017, 97 p., 22 cm. (coll. Rose is a rose is a rose is a rose, n° 8)
- Rua antes do Céu, Lisboa: Abysmo / Funchal (Madeira): Rosa de Porcelana, 2017, 119 p., 21 cm.
- Contrabando de cinzas (revisitação 6 súmula), São Paulo: Escrituras, 2016, 227 p., 21 cm. (coll. Ponte velha)
- Lisbon Blues, Lisboa: Abysmo, 2015, 107 p., 21 cm.
- Coração de lava, Assomada: Universidade de Santiago Edições, 2014, 207 p., 25 cm.
- Tempu di dilubri, Praia: n/a, 2011, n/a p.
- As irrevogáveis trevas de Baldick Lizandro, Corunha: Espiral Maior, 2010, n/a p.
- Cidade do mais antigo nome, Lisboa: Assírio e Alvim, 2009/2010, 175 p., 25 cm.
- Paraíso apagado por um trovão, Assomada: Universidade de Santiago Edições, 2009, 311 p., 21 cm.: édition bilingue portugais - créole
- À bolina em redor do Natal, (Brasil): Ministério da Educação do Brasil, 2009, n/a p.
- Cabotagem e ressaca, Maputo: Escola portuguesa de Moçambique (EPM), 2008, 45 p., 15 cm. (coll. Acácia - Poesia inédito, n° 3)
- Lisbon Blues, seguido de Desarmonia, São Paulo: Escrituras, 2008, 205 p., 21 cm. (coll. Ponte velha)
- Os secretos acrobatas, (Brasil): Ministério da Educação do Brasil, 2008, n/a p.
- Agreste matéria mundo, Porto: Campo das Letras, 2004, 223 p., 21 cm. (coll. Campo da poesia, n° 68)
- Paraíso apagado por um trovão: 2a edição revista e aumentada, Praia: Spleen Edições, 02/2004, 104 p., 21 cm.
- Paraíso apagado por um trovão, Lisboa: ed. do autor, 12/2003, 104 p., 21 cm.
Périodiques
- "Infância(s) revisitada(s)", Santa Barbara Portuguese Studies, vol. X (2008), p. 191-197
- "Pátria minha - História subjetiva", Público: revista comemorativa dos 30 anos da Independência de Cabo Verde, n° n/a (05/07/2005), p. n/a
- Fragmentos: revista de letras, artes e cultura (Praia), n° 11/15 (12/1997), p. 75-78:
- "Crónica do tempo"
- "Forças"
- "Subúrbios - Solidão"
- "Memória do inverno - 2"
- "Barco com nome de ilha"
- "Ecos da batalha - Jorge de Sena"
- "Crepúsculo de porto"
- "Horizonte"
- Fragmentos: revista de letras, artes e cultura, n° 09/10 (05/1993):
- "Vitória", p. 49
- "As mãos e os gestos", p. 49-50
- Fragmentos: revista de letras, artes e cultura, ano IV, n° 7-8 (12/1991):
- "Foto legendada de Pessoa", p. 59
- "Eu conto", p. 60
Recueils collectifs - Anthologies - Autres
- "Ergue(-se) pela palavra: uma fenomenologia da criação poética", in Rui d'Ávila Lourido (ed.) Literatura e lusofonia: anais do V encontro de escritores de língua portuguesa, 2015, Lisboa: UCCLA, 01/2017, p. 78-81 (web)
- "Infância(s) revisitada(s)", in António Apolinário Lourenço / Osvaldo Manuel Silvestre / Pires Laranjeira (ed.), Baltasar Lopes (1907-1989) e o movimento da Claridade, Coimbra: Centro de literatura portuguesa, 2010, p. 9-17
- "Tarrafal", in Jorge Velhote / Nicolau Saião / Nuno Rebocho (ed.), Na liberdade: 30 anos - 25 de Abril, Peso da Régua: Garça Editores, 2004, p. 163
- José Luís Hoppfer Cordeiro Almada (ed.), Mirabilis de Veias ao Sol: antologia dos novíssimos poetas cabo-verdianos, Lisboa: Caminho, 1988 (2a ed. 1991 / 3a ed. 1998):
- "Liberdade", p. 296-297
- "Estamos aqui", p. 298-299
- "A tarde voltou novamente", p. 300
- "À noite", p. 301
- "Tenho sede de ser árvore", p. 302
- "Procuro-te", p. 303
- "Praia", p. 304
- Psicopata: os olhos que espiam a proxima vítima: livro reportagem, São Paulo: Geração Editorial, 1993
Études critiques
- A nação: jornal independente, ano XII, n° 634 (24/10/2019):
- Arménio Vieira, "A magnus opum de José Luiz Tavares, il miglior fabro da moderna poesia cabo-verdiana", p. 6 suplemento
- Romice Monteiro, "José Luiz Tavares lança três títulos novos no Tarrafal", p. 8 suplemento
- anonyme, "Prémio Vasco Graça Moura para José Luiz Tavares", Leitura: revista da Livraria Pedro Cardoso, n° 5 (01-03/2019), p. 41
- Maria de Fátima Fernandes, Percursos identitários e estéticos na literatura cabo-verdiana contemporânea: João Varela, Corsino Fortes e José Luis Tavares, Praia: Pedro Cardoso Livraria, 10/2016, 226 p., 24 cm.
- Maria de F´tima Fernandes, "Lendo o sentido de existir em Coraçõ de lava de José Luiz Tavares", in António Aparecido Mantovani / Érica Antunes Pereira / Simone Caputo Gomes (ed.), Literatura cabo-verdiana: leituras universitárias, Cáceres (Mato Grosso): UNEMAT Editora, 2015, p. 112-123 (web)
- Rui Guilherme Gabriel, "Diáologo com érato. Sobre José Luiz Tavares", Pré-textos: revista de artes, letras e cultura, II série, n° 5 (05/2014), p. 55-63
- Rui Guilherme Figueiredo da Silva, Exemplo cosmopolita: João Vário, Arménio Vieira e José Luiz Tavares (tese de doutoramento), Coimbra: Universidade de Coimbra, 2013, 390 p. (web)
- Rubens Pereira dos Santos, "Poesia cabo-verdiana contemporânea: a poética de José Luiz Tavares", Via Atlântica: publicação da área de estudos comparados de literaturas de língua portuguesa (São Paulo), n° 22 (12/2012), p. 115-126 (web)
- Ricardo Silva Ramos de Souza, "José Luiz Tavares", A nação, n° n/a (24/03/2011), p. 10
- Rui Guilherme Gabriel, "O pólen que redime: sobre José Luiz Tavares", Textos e pretextos (Lisboa), n° 14 (2011), p. 45-57
- Rui Guilherme Gabriel, "Imenso país imerso, a infância: sobre o novo Paraíso apagado por um trovão", A nação (Praia), n° 153 (05/08/2010), p. 12-13
- Ricardo Silva Ramos de Souza, "José Luiz Tavares - Paraíso apagado por um trovão", A nação, n° n/a (10/06/2010), p. 16
- "Paraíso foi um trovão ne céu da literatura cabo-verdiana (entrevista por António Monteiro)", Expresso das ilhas, n° n/a (03/06/2010), en ligne (web)
- JL - - Jornal de letras, artes e ideias (Lisboa), ano XXX, n° 1'029 (10/03/2010):
- Pires Laranjeira, "Herdeiro de várias civilizações" (recensão crítica a Cidade do mais antigo nome), p. 16
- "A poesia é a minha morada (entrevista por Francisca Cunha Rêgo)", p. 16-17
- J.A., "José Luís Tavares: o poeta de todos os Prémios", Notícias de Cabo Verde, n° n/a (25/02/2010), en ligne (web)
- Pires Laranjeira, "A agreste matéria-mundo, polida com grande eloquência pelo mais antigo nome: poesia", A nação (Praia), n° 128 (11/02/2010), p. 36-37
- António Carlos Cortez, "Quando a poesia procura o nome. José Luiz Tavares e Cidade do mais antigo nome", A nação (Praia), n° 127 (04/02/2010), p. 21
- "Os prémios podem fazer os nomes mas não fazem as obras (entrevista por Abraão Vicente)", A nação (Praia), n° 90 (21/05/2009), p. 2-4
- José Luís Hopffer C. Almada, "José Luiz Tavares: um percurso fecundo e luminoso na novíssima poesia cabo-verdiana", in José Luiz Tavares, Lisbon Blues, seguido de Desarmonia, São Paulo: Escrituras, 2008, p. 191-205; réédition: Revista de Cultura (São Paulo), n° 62 (03-04/2008), p. n/a
- António Cabrita, "O ouro do ilhéu", Atual (suplemento do jornal Expresso, n° 1'695), n° n/a (23/04/2005), p. n/a
- António Cabrita, "Corsário das Ilhas", Atual (suplemento do jornal Expresso, n° 1'636), n° n/a (06/03/2004), p. n/a
- Pires Laranjeira, "Um paraíso cintilante", JL - Jornal de letras, artes e ideias (Lisboa), ano XXIII, n° 877 (26/05/2004), p. 24
- Fátima Monteiro, "Paraíso apagado por um trovão - poesia de José Luiz Tavares", Artiletra, ano XIII, n° 57 (04-05/2004), p. n/a
- "Entrevista com Maria João Cantinho", Storm Magazine, n° n/a (08/2004), p. n/a; réédition: in José Luiz Tavares, Paraíso apagado por um trovão, Assomada: Universidade de Santiago Edições, 2010, p. 289-302
- António Cabrita, "Corsário das ilhas", Atual (suplemento do jornal Expresso, n° 1'636), n° n/a (06/03/2004), p. n/a