Jorge Miranda ALFAMA
(1941 - 2016)
Biographie
Jorge Manuel Miranda Alfama est né le 27 janvier 1941 à Cacheu, en Guinée-Bissau, et meurt le 3 février 2016, à Praia, à l'âge de 75 ans. À noter qu'il a obtenu la nationalité portugaise par décret du 13 décembre 2006. (web)
Fils de Maria da Conceição Faria Miranda et de Joaquim Turíbio Alfama, il épouse Maria Antónia Sousa Brito Nobre Leite, dont il a trois filles: Teresa, Patricia et Sofia.
Bien que né en Guinée-Bissau, il vit dès l'âge de deux ans au Cabo Verde. Il suit les cours au Lycée Gil Eanes, à Mindelo, puis part au Portugal entreprendre des études en Sciences, qu'il abandonne au bout de la première année.
Il effectue son service militaire en août 1962, gravit les échelons et devient lieutenant en décembre 1965. Il est ensuite muté en Angola où il devient commandant de district de la Polícia de segurança pública, à Cuando Cubango. Après la Révolution du 25 avril 1974, il retourne au Cabo Verde où il devient fonctionnaire, puis commandant de la police et enfin, de manière assez inattendue, président de l'Institut caboverdien du livre et du disque (ICLD). Amateur d'art, c'est dans le cadre de cette dernière fonction qu'il fait le prêt de sa collection d'art caboverdien, à l'automne 1990, à une exposition qui se tiendra à l'Assemblée national du Cabo Verde à l'occasion des 15 ans de l'Indépendance. (web)
Enfin, notons que le Portal português de arquivos conserve un dossier intitulé Jorge Manuel Miranda Alfama, cote PT/TT/DGAP-DIA/001/019641, portant sur les années 1966-1972. Cependant ce dossier est classé "não comunicável"! (web)
Œuvres littéraires
Dans sa jeunesse, Jorge Miranda Alfama s'adonne à la poésie. Il est attaché à Jograis do Mindelo, une structure qui promeut la poésie aussi bien en portugais qu'en créole caboverdien.
Il collabore, par ailleurs, tout au long de sa vie à plusieurs périodiques, dont Mocidade, O Arquipélago, Cabo Verde, Raízes, Voz di povo...
Il est un des trois fondateurs de Seló, le suplément du journal Notícias de Cabo Verde, qui connaîtra deux numéros seulement.
Il semblerait qu'on lui doive la première mention de la chanteuse Cesária Évora dans le périodique O arquipélago, du 1er avril 1965, dans lequel il tenait une colonne intitulée "Cantinho literário". Il écrivait: "A Cesária Évora, à mesmo ela, aquela moça de seios perfeitos e ancas ondulantes assim como o mar brincando na praia, virá à nossa mesa pedindo que a deixes beber do teu copo, cantando só para ti a partida do Toi da Djinha, que um dia sem dizer nada a ninguém deu o nome para ir trabalhar nas roças, e não mais voltou". (web)
Enfin, il a publié deux ouvrages assez tardivement: Isto e aquilo paru en 2000 et Ao pé das letras en 2010.
Il occupe le siège n°14C des Padronos - Imortais da Academia cabo-verdiana de letras (ACL), fondée en 2013.
RENOVACÃO DUMA PROMESSA DE ROSAS
Para Dinha
Dava-te rosas
se Janeiro concebesse milagres.
Porém, versos-semente
têm o espinho de
não serem já rosas…
…Eu me semeei na argila
com sangue e tempo para florir.
Então terei rosas
muitas rosas
rosas contra-calendário
para a concha do teu regaço.
E tu verás ó amada
Sim, verás! rosas em Janeiro!
Seló, n° 1 (1962)
*****
O LOUCO
Feliz do louco
que traz gravado em cada face
o risco disforme da chibata.
E não queres conceber
que aquele vestido foi teu!
Agora esfarrapado
quem o há-de querer?
Como rodoplavas...
Como lutavam pelo teu sorriso...
De repente só restou
o fantasma dos teus anselos,
que se desfizeram lentamente,
enquanto mãos impuras
se apoderavam do teu corpo lânguido.
O louco é muite mais feliz
... E traz gravado em cada face
o risco disforme da chibata.
Seló, n° 2 (1962)
REGRESSO
Djily!
Regresso de mãos vazias
e o corpo marcado pelas chibatadas do destino
Não trago nada
o meu coração vem roto
de tanto esperar pela palavra prometida
e a morna já não tem força
para abafar o desdém da minha existência.
Por favor deixa-me descansar
na tua pobre estreira.
Que é do teu sorriso franco
como a lua a reflectir na renda do mar?
E o teu andar cadenciado de crioula feliz
sem ter bradado pelos filhos
que partem para as roças distantes?
Onde estão o Toi Pedro e Jack
e toda a rapaziada amiga
que acreditavam na prometida terra-longe?
A nossa gente Djily
diz-me onde está a nossa gente
porque desconheço-os nestes fantasmas
que fingem esquecer a realidade
queimando no grogue
o resto humano que ainda não se perdeu?
Dá-me a tua esteira Djily
para eu descansar este corpo cansado
Beija-me a face
assim... devagar
porque quero sentir pela derradeira vez
o doce calor dos teus lábios magros
que me fazem de novo fingir que sou homem.
Notícias de Imbondeiro, 1964
Bibliographie
Œuvres
- Ao pé das letras, Praia: IBNL, 2010, 240 p., 21 cm. (coll. Artes e letras)
- Isto e aquilo, Praia: Artiletra, 07/2000, 164 p., 22 cm.
Périodiques
- "Corsino Fortes, o poeta", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XXIV, n° 130-131 (07-08/2015), p. 23
- "Tradições, modernidade e diálogo de cultures", Vértice, 2e série, n° 3 (06/1988), p. n/a
- "O livro do Terceiro Mundo. O eterno esquecido no diálogo Norte-Sul: conversando em Frankfurt com Jorge Miranda Alfama, presidente do ICL (entrevista)", África, n° n/a (11/11/1987), p. n/a; réédition: in José Carlos Venâncio, Literatura e poder na África lusófona, Lisboa: Ministério da educação / Instituto de cultura e língua portuguesa, 1992, p.63-66 (web)
- "Um escritor singular: Virgílio Pires", Emigrason: revista do Ministério dos negócios estrangeiros, n° 20 (1987), p. 53
- Raízes, ano I, n° 1 (01-04/1977):
- "Esperança 2", p. 91
- "No fim da jornada", p. 91
- "Cantinho literário", O arquipélago, n° n/a (01/04/1965), p. n/a
- "Regresso", Notícias de Imbondeiro, n° 61 (05/1964), p. n/a
- Mákua: antologia poética (Angola), n° 4 (1963):
- "Poema", p. n/a
- "Desespero", p. n/a
- "O nosso mundo", p. n/a
- "Partida", p. n/a
- ""Prelúdio", p. n/a
- "O louco", Seló: paginas dos novissimos (suplemento Notícias de Cabo Verde, n° 323 (28/08/1962)), n° 2 (1962), p. (1); reprint: ICL, 1990
- "Oração", Notícias de Imbondeiro, n° 32 (05/1962), p. n/a
- Seló: paginas dos novissimos (suplemento Notícias de Cabo Verde, n° 321 (25/05/1962)), n° 1 (1962), p. (2); reprint: ICL, 1990
- "Renovação duma promessa de rosas"
- "No fim da jornada"
- "Nuvidade / Novidade", Cabo Verde: boletim de propagana e informação, ano XII, n° 141 (06/1961), p. 16-18
- "O desporto como instrumento de educação física e moral", Cabo Verde: boletim de propaganda e informação, ano XI, n° 135 (12/1960), p. 37-40
- (?) "Um adeus ao poeta Daniel Filipe à distância de décadas", n/a
Recueils collectifs - Anthologies - Autres
- "Regresso", in Erica Antunes Pereira / Maria de Fátima Fernandes / Simone Caputo Gomes (ed.), Cabo Verde, 100 poemas escolhidos, Praia: Ed. Pedro Cardoso, 2016, p. 115
- J.M.A. / Dulce Almada Duarte (ed.), Antologia da ficção cabo-verdiana: Claridosos, Praia: AEC Editora, 2001, 510 p.
- Manuel Veiga (ed.), Cabo Verde: insularidades e literatura / Insularité et littérature aux îles du Cap Vert, Paris: Editions Karthala, 1998:
- "Os flagelados do vento leste / Les victimes du vent d'est", p. 239-245 (PT) / p. 249-256 (FR)
- "Chiquinho de Baltasar Lopes, o romance de Claridade / Chiquinho", p. 247-253 (PT) / p. 257-263 (FR)
- "Préface", in J.M.A. (éd.), Récits et nouvelles du Cap Vert: Claridade, Paris: Editions Chandeigne, 1996, p. 7-14 (trad. en français par Michel Laban); rééditions: 2006, 03/2021 ("Postface")
- Lúcia Cechin (ed.), Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe: poesia e conto, Porto Alegre (Brasil): UFRGS, 1986:
- "Regresso", p. 41
- "Oração", p. 42
- Luís Romano (ed.), Contravento. Antologia bilingue de poesia cabo-verdiana, Taunton (MA / USA): Atlantis Publishers, 1982:
- "Natin / Natinho", p. 182-183
- "Sodade / Saudade", p. 184-185
- "Sperança / Esperança", p. 186-187
- "Mirtha nha qretcheu / Mirtha meu amor", p. 188-189
- Manuel Fereira (ed.), No reino de Caliban: antologia panorãmica da poesia africana de expressão portuguesa (vol. I: Cabo Verde - Guinée-Bissau), Lisboa: Seara Nova, 1975 (3a ed. 1988):
- "Oração", p. 225-226; 1988, p. 219
- "Regresso", p. 226; 1988, p. 220
- "Renovação duma promessa de rosas", p. 227; 1988, p. 221
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