Artur AUGUSTO,
alias Júlia Correia da Silva
(1912-1983)
Biographie
Artur Augusto da Silva est né le 14 octobre 1912 sur l'île de Brava et meurt le 11 juillet 1983, à Bissau.
Fils de Margarida Benvinda Barbosa et d'Henrique Augusto da Silva, il épouse le 14 octobre 1940 Clara Schwarz.
Il passe son enfance à Farim, en Guinée Portugaise jusqu'à l'âge de 8 ans. Il y retournera lorsqu'il aura 30 ans, puis y finira sa carrière et sa vie.
Entre les deux, il suit son cursus scolaire au Lycée Passos Manuel, puis au Lycée Camões qu'il achève en 1932 et entre alors en Droit à l'Université de Lisbonne, obtenant sa licence en 1938.
En 1939, il part en Angola alors qu'il travaille avec le secrétaire du Gouverneur général.
Entre 1941 et 1949, il est avocat au Portugal et défend principalement des prisonniers politiques.
Journaliste - reporter en parallèle, il voyage, en particulier en Afrique, ce qui influencera en partie sa production littéraire. Il organise également des expositions d'art, des conférences culturelles.
En 1966, ses idées ancrées à gauche et ses amitiés révolutionnaires, dont celle d'Amílcar Cabral, lui valent d'être arrêté par la PIDE à l'aéroport de Lisbonne. Il est alors incarcéré. Il doit sa libération quelques temps plus tard à l'intervention d'amis tel que Marcelo Caetano, mais il ne peut retourner en Guinée.
Ce n'est qu'en 1976, alors que la Guiné Portugaise est devenue la Guinée-Bissau et qu'il est invité par le nouveau président Luis Cabral, frère d'Amilcar, qui lui propose de devenir juge de la Cour Suprême, qu'il retourne sur la terre de son enfance.
Il enseigne également le Droit coutumier à l'Ecole de Droit de Bissau.
On trouvera un très grand nombre d'informations et de documents, photos, textes originaux sur le blog de João Schwarz da Silva, "Des gens intéressants". (web)
Oeuvres littéraires
Artur Augusto, qui publie aussi sous le pseudonyme de Júlia Correia da Silva, fait ses premières armes en matière d'écriture et de publication à l'université.
Ami d'Álvaro Cunhal et de Fernando Pessoa, qui lui dédicace et envoie son livre Mensagem, il dirige la revue estudiantine Momento, qui paraît à partir de 1934, sorte de réplique de la revue Presença.
En 1936, avec Thomaz de Mello, il lance la revue d'art Cartaz.
Par la suite il publie des poèmes et autres textes dans des périodiques tels que Claridade, Seara Nova...
E ERA A ESTRADA DA VIDA...
Contou-me uma velhinha...
T. Ribeiro
Havia um deserto e eu estava perdido na imensidade do ceu e d'aquele vasto areal, sentindo quanto era fraco e pequeno impacientava-me naquela imensa solidão, e caminhava sem nunca alcançar um oasis que antevia perto.
Caminhava dias e noites...
E cheguei a uma estrada larga, sombria e cheia de precipicios: o sol, rente do cime das montanhas longiaquas abrasava aquela estrada infinda.
Viandantes incautos caiam nos precipios e alguns morriam; outros porém conseguiam salvar-se e lá seguiam lamentando a sua sorte.
Do lado das montanhas sombrias vinha um velho alquebrado, faminto e miseravel.
Do lado da planicie verdejante caminhava um macebo forte.
Ao chegar junto do rapaz o velho assim fatou com uma voz cansada, mas meiga:
- Onde vais?
- Para aquelas montanhas d'além! Respondeu o imberbe moço.
- Volta atraz bom pegureiro: n'aquelas montanhas vive um mago chamado Ideal.
Quando eu era moço como tu, fui em busca d'ele; caminhei dias e noites sem o ter achado. Depois de mim partiram outros e também os não encontraram. Antes de mim já meus país o tinham buscado em vão.
Volta, para donde partiste bom zagal; a estrada é má e cheia de precipicios...
- Não importa: sou valente.
- Valente... Valente também eu o fui e volto rôto e miseravel.
O caminho é longo.
- Em menos tempo do que a lua gasta em mostrar aos homens as suas quatro faces, conto chegar ás montanhas que se erguem além!
Subirei lá acima; e com esla espada expulsarei todos os guerreiros que defendem o castelo onde está o Ideal.
- Deliras, pastor amigo? Quando eu tinha a tua edade assim pensava. Vés estes cabelos brancos? São a experiencia da vida.
Pois éles sabem que o Ideal é uma ilusão e que nunca ninguém o viu.
- Ealouqueceste om velho? Pois o Ideal é uma ilusão?
Os velhos são dementes!
Adeus!
Veio a noite e um livido clarão do luar banhou aquela estradà sombria.
O zagal, cantando baixo, como se não quizesse interromper o sôno das arvores, caminhava direito ás montanhas precedido apenas pela sua sombra.
E caminhou durante anos: as montanhas ficavam sempre no horizonte longinquo.
Uma tarde, começou perdendo a vista e deixou de ouvir; e sentiu que os passos ja não eram firmes. Perto passava um regato limpido, para la se dirigiu.
Sentou-se n'uma margem e olhou as espelhentas aguas: reparou então que tinha perdido a mocidade e que sobre si pesava o luto duma noite eterna.
Começou desfalecendo. Tombou para o lado: estava morto!
Os viandantes que passavam riam-se...
Os abutres desceram das alturas e, crocitando em volta do cadaver, comiam-lhe a carne ressequida, mumificada.
O nacional, 1929
On trouvera plusieurs poèmes et la transcription de Pequena viagem através África sur le site triplov.com (web).
DA MINHA RENÚNCIA
Abro largamente os braços
numa ância de amôr e de perdão;
mas fico crucificado
na dôr do meu calvario;
na minha própria ilusão.
Olho o céu, muito distante,
Donde fugiram os deuses
que a nossa desvairada
imaginação creou;
mas pressinto-o vasio,
como vaiso está meu peito,
sem alma e sem confôrto.
Nem já posso crêr em Deus,
fantasma feito para amedrontar
meninos;
olho o espaço imenso:
vejo vasios os céus.
Perdidos nossos destinos.
Momento, n° 8 (1935)
*****
MORNA
Ao Jorge Barbosa
Esta morna dolente,
onde vive a saudade do impossível
salpicada das ondas do mar
e do cheiro da maresia,
esta morna dolente,
onde vive a tristeza dos vencidos
e as lágrimas dos antigos escravos,
onde paira a saudade dos que partiram
para a grande aventura dos oceanos,
esta conversa com a noite
que entra por nós dentro
como uma gota de morfina,
esta música dolente
que embalou a minha infância
e vive no meu sangue e no meu cérebro
e me entorpece todo,
esta morna dolente,
é um lamento de vencidos,
de esfarrapados,
de oprimidos,
é uma fuga da alma para o infinito...
E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu, 1997
Bibliographie
- O cativeiro dos Bichos, 2006
- E o poeta pegou num pedaço de papel e escreveu poemas, Bissau: Instituto Camões, 1997, 77 p., 16 cm.; réédition: 2006
- Direitos civil e penal dos Mandinguas e dos Felupes da Guiné-Bissau, Bissau: DEDILD, 1983 (4a ed.), 214 p., 23 cm.
- Usos e costumes jurídicos dos Felupes da Guiné-Bissau: ensaio, Bissau: DEDILD, (1980), 132 p., 22 cm.
- Usos e costumes jurídicos dos Mandingas, Bissau: s.n., 1969, n/a p. (coll. Centro de estudos da Guiné Portuguesa, n° 23)
- A.A.d.S / Fernando Brandão Ferreira Pinto, Legislação do trabalho em vigor na Guiné: anotada, Bolama: Imprensa nacional, 1963, 544 p., 22 cm.
- Pequena viagem através de África, Bissau: s.n., 1963, n/a p.
- E depois... Não acreditam que há bruxas...: alegações, Bissau: s.n., 1962, 7 p., 23 cm.
- Usos e costumes jurídicos dos Fulas da Guiné, Bissau: s.n., 1960, 48 p., 26 cm.
- Apontamentos sobre as populações oeste-africanas segundo os autores portugueses dos séculos XVI e XVII, Bissau: s.n., 1959, n/a p. (separata do Boletim cultural da Guiné Portuguesa, ano XIV, n° 33)
- Usos e costumes jurídicos dos Fulas da Guiné Portuguesa: ensaio, Bissau: Centro de estudos da Guiné Portuguesa, 1958, 139 p., 24 cm.
- Arte Nalú, Bissau: s.n., 1956, n/a p.
- João Carlos, um artista do livro, Lisboa: Edições Gleba, 1944, 22 p.
- A grande aventura: romance, Lisboa: Livraria popular de Francisco Franco, 1941, 186 p., 19 cm.
- A moderna poesia brasileira, Lisboa: Editorial Império, 1939, n/a p.
- Caminhos do Mundo: crónicas de viagem, Lisboa: Editorial O século, 1939, 199 p., 19 cm.
- O anel do amor: Siguefredo, Ines, Tristão et Iseu, Lisboa: Edições Momento, 1938, 162 p., 19 cm.
- A.A.d.S. / Mário Fiúza, Tatuagens, Lisboa: Edições Momento, 1935, 79 p., 17 cm.
- Viagem quasi romantica: poemas, Lisboa: Edições Momento, 1935, n.p. (32 p.), 25 cm.
- Imagem: ensaios críticos, Lisboa: Edições Momento, 1935, 64 p., 18 cm.
- Romance de Inez de Castro, Lisboa: Edições Momento, 1934, (79) p., 18 cm.
- Júlia Correia Silva, Sensuais / Helena Mária, Lisboa: Edições Momento, 1933, 76 p., 24 cm.
- Mais além: canções, (Lisboa): Ed. do autor, 1931-1932, n/a p.
- "Ensaio de estudo da introdução na Guiné das cooperativas agrícolas", Boletim cultural da Guiné, 1954
- Jorge Barradas, 1938
- António Soares, 1937
- "Pequena viagem através África (conferência pronunciada em 1963)", buala.org, 03/01/2011, en ligne (web)
- "Os homens lobos", Artes e letras (separata do Diario de notícias), n° n/a (24/05/1973), p. n/a
- "Natal na Guiné", Panorama, III série, n° 24 (1961), p. 66-68
- "O direito penal entre os Fulas da Guiné", Boletim cultural da Guiné Portuguesa, n° n/a (07/1954), p. n/a
- "Um artista brasileiro em Portugal: Tom", Boletim da Sociedade luso-áfricana do Rio de Janeiro, n° 24 (1938), p. 45-46: Tom, pour D. Thomaz de Mello, co-directeur de la revue Cartaz?
- "O sentido heróico do mar", Claridade: revista de arte e letras, n° 3 (03/1937), p. 4
- "Abdulai o caçador", O mundo português: revista de cultura e propaganda, arte e literatura, vol. III, n° 28 (04/1936), p. 185-187
- "António José da Silva: alguns aspectos da perseguição aos judeus", Seara nova: revista de doutrina e crítica, n° 435-436 (16/05/1935), p. 50-51 (web)
- "Da minha renuncia", Momento: manifesto de arte e crítica, n° 8 (04/1935), p. n/a
- "Pagina da Mocidade: O que é a literatura do passado para a mocidade presente", Seara nova: revista de doutrina e crítica, n° 370 (04/01/1934), p. 153 (web)
- "Um érro", n/a, (29/04/1933), p. n/a
- "Camões e a Infanta D. Maria: notas á margem de um livro", n/a (11/03/1933), p. n/a
- "O Fernão de Magalhã de Stefan Zweig: alguns erros e inexactidões", n/a (web)
- "Contos de O nacional", O nacional, n° n/a (16/04/1929), p. n/a (web)
- "Pintura: exposição de Alda e José Pereira no Salão Bobone", n/a (web)
- "Prefácio, in Silva Bastos, Cristais: poemas, Lisboa: Edições Momento, 1933, p. n/a
Etudes critiques
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