Artur VIEIRA
né en 1932
Biographie
Artur Vieira, poète, écrivain, journaliste cap-verdien, est né le 21 mai 1932, à Laranjeiras, dans la paroisse de Nostra Senhora do Monte, sur l'île de Brava.
Marié avec Gedioni Vieira, il a eu deux enfants: Artur et Eduardo. Tous vivent actuellement à Rio de Janeiro.
Il suit son cursus scolaire sur son île natale, puis part pour l'Angola durant une année, avant de migrer définitivement au Brésil, à Vitória, dans l'État do Espírito Santo. Il y suit un cursus en économie et administration d'entreprise.
Artur Vieira a été directeur du Centro intercontinental português et par la suite, co-fondateur de l'Association capverdienne de Rio de Janeiro.
Il occupe le siège 47 (patronage Eugénio Tavares) de l'Academia internacional de Letras.
Oeuvres littéraires
Artur Vieira a écrit plusieurs ouvrages et collabore avec des périodiques brésiliens, européens, américains et bien entendu capverdiens.
Il a fondé, avec Luís Romano, la revue brésilienne Morabeza: divulgação internacional da arte e cultura cabo-verdiana.
Son oeuvre poétique ou théâtral est complétée par des oeuvres religieuses, dont O Colportor, Natal, O Filho Pródigo, Nasce Jesus, Dia das Mães, A Mensagem Adventista em Cabo Verde, O Calvário e Degraus de Fé ou encore Os Pródigos.
Il écrit aussi bien en créole qu'en portugais.
Sa production est dense, mais mal distribuée, elle est très difficile à regrouper, avec une information complète et fiable.
Une étude de fond reste à faire!
MAR EMIGRANTE
Mar... de meus olhos,
Meu leito, meu destino.
Mar que se despe
Se transmuda em flores,
Meiguice, ilusões.
Mar... tua música
Revive meu pranto.
Nas procelas dos violões
Tuas rixas são pérolas
A estribar nas ondas.
Mar... em cujas veias
Circula o sal das ondas
Que aduba teus campos
De esperança
Sacrifício, dor.
Mar... mar imenso
De que sou escravo
Para construir aldeias
Traçar avenidas de espumas
Na floresta dos soluções.
Mar... de barcos ao léu
Quais manchas em chispas
Vagueando
Por entre as pedras
E descaminhos de fuga!
As vagas apagam
Informes rastros
De pés infinitos.
Mar... em turbulenta sede
Sorvi todas as tuas águas
E agora em dobro
As restituo
Em profuso pranto.
Mar... que se despe!
Devolve-me agora
Os barcos e os sonhos
Que deixei contigo
Quando eu era menino!
Destino do bai, 2008, p. 337-338
ESPELHO DA ALMA
Alguém, no delírio da emoção, sugere:
- Escreve, poeta, um poema que enalteça
A sutil beleza dessa mulher loira.
Um poema que a eternize, exaltando-a
Na magia ímpar de seus atrativos.
Se acaso fosse eu tal escritor
E envergasse elevados dons da Inspiração
Ressaltaria outra mulher, a negra escrava
Aprisionada, ainda menina, e no convés
Conduzida às roças do sertão brasileiro.
Sua história arrepia de pejo qualquer cristão.
Trabalhou horas a fio, dia e noite
Sofreu maus tratos, sob o tacão do senhorio
Sempre submissa à sina atroz do destino
Alheia aos queridos seus, no eterno exílio.
Quem poderia desvendar sua alma peregrina?
Ter saudades, sem direito algum de sonhar...
Recordações no silêncio equivocado da desgraça
Em triste canto que mais traduz gemidos
Ou mesmo repúdio ao abuso patronal.
A negrinha sujeita à rude desdita
Sofre, ama, lida, edifica a raça
E incorpora na alma aquela mística beleza
Que somente os poetas sofridos auscultam
- Ela e a loira, duas flores no altar da Poesia!
Destino do bai, 2008, p. 341
Bibliographie
Oeuvres
- A vida o melhor poêma, 2015ca
- Eugénio Tavares: palco de dor e amor (teatro), Praia: IBNL, 2007, 107 p., 21 cm.
- Assim me prende a musa: poesias, Vitória (?): Ed. do autor, 2005, 137 p., 21 cm.
- Balaio de cicatrizes: vida e poesia, s.l.: s.n., 2004, 84 p., 21 cm.
- Degraus da fé: poesias, Vila Velha (ES): s.n., 2003, 120 p., 21 cm.
- Jangada de poemas, s.l.: s.n., 2003, 127 p., 21 cm.
- Matilde: viagem do destino, Rio de Janeiro: Rabaço Editora 1995, 167 p.
- Raizes de emoções: poesias, Rio de Janeiro: Rabaço Editora, 1993, 133 p.
- Ninho de saudade: poemas, Rio de Janeiro: Rabaço Editora, 1992, 217 p.
- Matilde: viage di distino, Rio de Janeiro: s.n., 1991, 167 p., 21 cm.
- Um note na Djabraba (teatro), Rio de Janeiro: s.n., 1990, n/a p.
- Galafo (drama), Rio de Janeiro: s.n., 1980, n/a p.
- Sampadjuda (comédia)
- Descobrimento da Brasilândia (comédia)
- Os pródigos
- O colpotor
- Natal
- O filho pródigo
- Ano 2000
Périodiques
- "Mãe - Dávida do Céu", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XXV, n° 140 (12/2016), p. 3
- "Eugénio Tavares: palco de dor e amor (continuação do número anterior)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XVI, n° 83 (06/2007), p. 18
- "Eugénio Tavares: palco de dor e amor (continuação do número anterior)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XVI, n° 82 (04-05/2007), p. 19
- "Eugénio Tavares: palco de dor e amor (continuação do número anterior)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XVI, n° 81 (12/2006 - 01/2007), p. 20 (blanche) + 23
- "Eugénio Tavares: palco de dor e amor (continuação do número anterior)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XVI (sic), n° 78 (10-11/2006), p. 8
- "Eugénio Tavares: palco de dor e amor (cont. do número anterior)", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XIII, n° 75 (01/2006), p. 5 + 7
- "Eugénio Tavares: palco de dor e amor", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano XIII, n° 75 (01/2006), p. 7-8
- "Apoteose", Artiletra: JORE / Jornal revista de educação, ciência e cultura, ano IX, n° 34-35 (06-07/2000), p. 8
- Cimboa: revista cabo-verdiana de letras, artes e estudos (Boston), ano II, n° 3 (verão 1997): (web)
- "A glória de ser imortal", p. 3
- "Eugénio Tavares, um homem do povo", p. 4-5
- "A questão do crioulo: uma réplica de Artur Vieira", Voz di povo, ano II, n° 53 (1976), p. 9
- "Aspectos sócio-económicos de Cabo Verde", Nós vida: publicação mensal da Associação cabo-verdiana, n° 65 (11-12/1975), p. 2-6 e 8
Recueils collectifs - Anthologies - Autres
- "Vértice", in Erica Antunes Pereira / Maria de Fátima Fernandes / Simone Caputo Gomes (ed.), Cabo Verde, 100 poemas escolhidos, Praia: Ed. Pedro Cardoso, 2016, p. 78
- Francisco Fontes (ed.), Destino de Bai: antologia de poesia inédita cabo-verdiana, Coimbra: Saúde em português, 06/2008:
- "O vírus do poder", p. 335
- "Venerável mulher", p. 336
- "Mar emigrante", p. 337-338
- "Saudade", p. 339
- "Desvario", p. 340
- "Espelho da alma", p. 341
- "Tempo é vida", p. 342
- Luís Romano (ed.), Contravento. Antologia bilingue de poesia cabo-verdiana, Taunton (MA / USA): Atlantis Publishers, 1982:
- "Nha mai / Minha mãe", p. 54-55
- "Nôs sina / Sina", p. 56-57
- "Poeta di povo / Poeta do povo", p. 58-59
- "Tibuco / Tibuco", p. 60-61
- Manuel Ferreira (ed.), No reino de Caliban: antologia panorãmica da poesia africana de expressão portuguesa (vol. I: Cabo Verde / Guinée-Bissau), Lisboa: Seara Nova, 1975 (3a ed. 1988):
- "Nôs sina", p. 311-312; 1988, p. 305-306
- "Funco", p. 312-313; 1988, p. 306-307
Etudes critiques
- Sam Santiago, "Brava - Capital da cultura: os promotores da cultura bravense", Brada Maria, 30/05/2014, en ligne (web)
- Anna Lima Delgado, "The Creola Genealogist: The Day Brava Lost Its Men", Nobidade TV Network, 2014?, en ligne (web)
- s.n., "Homenagem de Artur Vieira a Eugénio Tavares, na Academia internacional de Letras (Rio de Janeiro, 1993), eugeniotavares.org, s.d., en ligne (web)